No cenário mutável da contemporaneidade, as organizações necessitam de líderes com orientação inovadora na condução dos processos de relacionamento com seus liderados. O conceito de Liderança Transformacional (Burns, 1978) privilegia o engajamento dos liderados a fim de que, tanto líderes quanto seguidores, elevem um ao outro a níveis mais altos de motivação e moral.

A liderança transformacional incorpora fortemente o componente pessoal à medida que os líderes incentivam os liderados a introduzir mudanças nas suas atitudes de modo a inspirá-los para o alcance de objetivos baseados em valores e ideais. Marlene Marchiori, professora do B.I. International, acredita ser essa uma das competências essenciais para que se possa pensar em um senso de direção aos negócios. “Ou seja, sem relacionamento, sem conversação, sem diálogo entre lideres e liderados não consigo conceber uma organização que tenha identificada sua competência”, reitera.

Nesse processo, os liderados confiam, admiram, respeitam o líder e demonstram lealdade para com ele. Nesse sentido, os estudos conduzidos por Gail Fairhurst (2007) no que se refere à Discursive Leadership (liderança discursiva) contribuem decisivamente para uma abordagem que intensifica os relacionamentos, o que requer, tanto de líderes quanto dos liderados, uma maior consciência na construção de relações que oportunizem o discurso, a conversação e o diálogo nas organizações.

Entrevistas feitas com 50 profissionais, entre empresários, líderes, executivos e especialistas de mercado e desenvolvimento humano, envolvendo 15 estados brasileiros, levantaram cinco comportamentos intoleráveis no líder contemporâneo: morosidade, dificuldade para construir relacionamentos, falta de comprometimento com resultados, pensar pequeno e arrogância.

Segundo Marchiori, essas características não facilitam o desenvolvimento dos relacionamentos nas organizações e muito menos a construção de um ambiente onde as pessoas possam simplesmente serem pessoas. A professora considerou interessante relacionar essa pesquisa com os resultados do estudo apresentado por House, R. et al (2002) Globe Project.

O estudo pesquisou sobre a cultura e a liderança em 61 nações. As culturas nacionais foram examinadas em termos de nove dimensões: orientação para o desempenho, orientação para o futuro, assertividade, distância do poder, orientação humana, o coletivismo institucional, o coletivismo em grupo, aversão à incerteza e igualitarismo de gênero. Em um levantamento de milhares de gerentes de nível médio no processamento de alimentos, finanças e telecomunicações nesses países, GLOBE comparou suas culturas e os atributos de liderança eficaz.

Os autores, participantes do estudo GLOBE (Global Leadership and Organizational Behavior Effectiveness), definem liderança como “a habilidade de uma pessoa influenciar, motivar e capacitar os outros a contribuírem com a eficácia e sucesso da organização a qual pertencem” (HOUSE et al., 2004, p. 5). Esse estudo permitiu analisar, em distintas culturas, as “teorias implícitas de liderança”: atributos e comportamentos percebidos pelas pessoas como sendo de líderes. Como resultado, obtiveram um conjunto de seis dimensões de liderança universalmente compartilhadas, chamadas de “dimensões de liderança endossadas pelas culturas”. Elas são influenciadas pelas dimensões da cultura (social e organizacional) e implicam aceitação e subseqüente eficácia do líder.

O tema liderança é cada vez mais discutido nas organizações e mesmo em grupos que se reúnem e discutem sobre como conseguir motivar e fazer com que os colaboradores se empenhem em torno das estratégias e façam seu trabalho da melhor maneira possível. E o que encontramos, ao final, além da constante necessidade de aprimoramento e capacitação, são os relacionamentos. O líder de sucesso só pode sê-lo, quando há por detrás um grupo de liderados competentes.

*Marlene Marchiori, professora do B.I. International, Pós-doutora em Comunicação Organizacional pela Purdue University, dos Estados Unidos. Doutora pela Universidade de São Paulo (USP), com estudos desenvolvidos no Theory, Culture and Society Centre da Notthingham Trent University, do Reino Unido.

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