Essa nossa conversa nos leva a refletir sobre a interculturalidade como um processo, ou seja, ela não é estática, ela é movimento e isso pode ser entendido e percebido como um processo quando a participação do sujeito ou dos sujeitos é evidenciada. Essa presença dos sujeitos é condição sine qua non para que a interculturalidade seja percebida e tenha na sua pratica a visão processual. Devemos assim compreender que esses sujeitos em diálogo, que são o processo em si, tornam essa realidade concreta.

Quando nós especificamente apreendemos nosso olhar para as organizações e nesse quesito estamos observando os sujeitos em diálogo, nós necessariamente estamos falando sobre processos interacionais. Estamos refletindo sobre comunicação, mas em uma comunicação muito mais relacional (entre sujeitos) do que informacional, ou seja, aquela que se pauta na dialogicidade, e que vislumbra naturalmente a perspectiva interpretativa. As diferenças entre as perspectivas positivista, interpretativa, critica e pós-moderna podem ser observadas no volume 3 da Coleção Faces da Cultura e da Comunicação: perspectivas metateoricas da cultura e da comunicação (MARCHIORI, 2013).

O que eu gostaria de refletir aqui com vocês, e a pergunta que não me faz calar é: De que forma na realidade, a interculturalidade pode ser percebida como um processo? E ao ser percebida como um processo, o que está inerente nisso?

Para mim está inerente que ao entender ela como um processo requisita-se automaticamente a presença dos sujeitos em diálogo; daí o tema “sujeitos em diálogos nos processos interculturais”.

Então quando nos propomos, de acordo com Bennett (2011), a fazer uma análise da interação entre as pessoas, a aprendizagem intercultural é essencial para essa aproximação, eu diria de modo saudável. Na medida em que os sujeitos se aproximam há necessidade de se melhorar a forma como estes se expressam uns com os outros e aqui já se começa a perceber que esse “eu” sai ao encontro do outro “eu” e é essa transação que nos torna, por exemplo, sujeitos em diálogo. Então o interculturalismo busca compreender como as pessoas criam sentido para os gestos, para as ações, para as palavras e para outras formas sutis de comunicação e como eles usam isso para conviver, para tornar essa vida, vamos dizer assim, com sentido. Assim, estamos falando de uma relação na organização, de uma relação dos sujeitos na organização para com a sua própria organização.

Se vamos observar e discutir aqui a questão inter-relacional, no sentido que uma se adapte melhor com a outra, não podemos deixar de observar que as pessoas precisam em um primeiro momento entender a si próprias (BENNETT, 2011). Elas precisam olhar para elas e precisam aprender a dar significado as suas próprias formas de comunicação e eu penso que esse é um exercício bastante interessante para o desenvolvimento dos sujeitos nos ambientes organizacionais.

Então como se pode atender a essa demanda de entender a si próprio, para depois aprender e dar significado as suas formas de comunicação e então criar significados que façam sentido para todos? Exatamente isso é o que Bennett (2011) chama de Comunicação Intercultural, mas faz uma ressalva que é bastante prudente, e nos dá condição de olhar para as diferenças nas organizações. Nesse processo justamente não se busca igualdade entre todos e entre as diferentes sociedades, mas que a apreciação pela diferença, ou como ele coloca “simples tolerância”, seja à base das relações sociais (BENNETT, 2011).

Reflexão extraída da apresentação de Marlene Marchiori no Congresso Abrapcorp 2014.

BENNETT, Milton J. Interculturalidade: você sabe o que é? 2011. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI250960-15228,00-INTERCULTURALIDADE+VOCE+SABE+O+QUE+E.html>. Acesso em: 05 ago. 2014.

MARCHIORI, M. Faces da Cultura e da Comunicação Organizacional: perspectivas metateoricas da cultura e da comunicação. São Caetano do Sul: Difusão, 2013.