Dando continuidade à nossa série de entrevistas, entrevistamos a professora Marlene Marchiori.

Confiram um super conteúdo sobre cultura organizacional e deixem suas opiniões sobre o tema nos comentários.

1- O que é para você cultura organizacional?

Cultura significa um valor, mas um valor como prática, como essência de uma empresa. Esse conteúdo de valor, tem que ter significado para as pessoas.

Devemos compreender cultura como algo que uma organização é (metáfora) e não como algo que ela tem (variável). Isso significa uma mudança nos processos de gestão das empresas, flexibilizando estruturas, incentivando diálogos, relacionamentos intensos, co-criação de ideias, entre outros, os quais comprovam a dimensão que os sujeitos assumem nos processos de construção de uma realidade empresarial. Essa visão requer o envolvimento das pessoas, a partir dos comportamentos e das práticas diárias, as quais se evidenciam de forma natural e adquirem sentido para aquele determinado grupo como algo válido.  Assim, cultura envolve necessariamente comunicação, à medida que se constrói pelas pessoas e nas interações, sendo primordial o diálogo, os processos de relacionamento e a convivência para ambientes de trabalho saudáveis que envolvam de forma significativa as pessoas. Vale destacar que organizações são realidades de comunicação e de produção de sentido (FAUSTO, 2008), e que ao se constituírem, traduzem sua identidade, que é única.

2- Como a cultura organizacional está presente nas organizações?

Organizações precisam se relacionar e ao agirem, elas se tornam reconhecidas. Inúmeros são os processos de relacionamento e é exatamente a partir dessa premissa que as culturas se formam, adquirem valor. Nesse sentido, a comunicação assume papel expressivo, sendo fundamental promover aproximações e a partir delas construir conteúdos que são válidos para aquele determinado grupo e que expressam comportamentos característicos. Assim, culturas se formam e aprendem a conviver na diversidade, que é característica do mundo contemporâneo. Esse caminho certamente é o que mantem a vivacidade das empresas e que permite nos compreendermos como grupo.

Não me desafio como pessoa se apenas executar uma tarefa, sem conhecimento sobre as razões e a conexão com a empresa. As pessoas, se envolvem a partir do momento que gostam do que fazem, respeitam os colegas, desejando permanecer na empresa, elas se relacionam com diferentes pessoas, saindo inclusive da zona de conforto, a partir do momento que se desafiam nessas relações e promovem novos conhecimentos, por meio das experiências de que empreendem.

3- Há empresas que tem muitas unidades/sedes espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. Você acredita que nestes casos existe mais de uma cultura organizacional presente?

Sim, mesmo em um único local empresas apresentam diferenças para poderem evoluir. Se todos pensarem da mesma forma, teremos desafios? Correremos risco? Seremos ousados? São questões que revelam a presença e o convívio com as diferenças. É exatamente esse processo que as torna diferentes, que revela sua identidade e que a torna única, pela sua essência.

Podemos falar em mosaico cultural, entendendo existirem inúmeras culturas em um mesmo espaço. Não há mais como pensarmos em uma cultura organizacional e sim em várias culturas as quais adquirem sentido a partir das experiências que estão sendo construídas e estimuladas pelos sujeitos que delas participam.

 

4- Que dicas você daria para os profissionais que precisam mapear a cultura organizacional de uma organização?

Inúmeros podem ser os processos para se mapear culturas em empresas. Considero fundamental estudos a longo prazo, pois culturas se revelam a medida se observa ao longo do tempo a personalidade, podemos assim dizer, daquela empresa. Mesmo assim, me arrisco a lançar algumas ideias que podem ajudar nesse mapeamento:

Conviver e observar o comportamento das pessoas
Identificar comportamentos validados pelos diferentes grupos
Estudar os valores de uma empresa, observando como se dão as práticas
Entrevistas em profundidade para conhecer o que as pessoas pensam sobre a empresa

5- Como você vê a relação que existe entre as ações de Comunicação Interna e Endomarketing e a cultura organizacional?

A sintonia é fundamental em qualquer atitude empresarial, e nesse contexto, em especial, mais ainda. Estamos falando do que nos move como pessoas, de nossa identidade, daquilo que é fundamentalmente reconhecido pelas pessoas que ali convivem como uma prática que cresce em valor, somente com o envolvimento das pessoas. Assim, esse conjunto deve assumir posição estratégica na empresa, compreendendo que o futuro de uma empresa depende exatamente daquilo que ela é.

6- Você acredita que é melhor uma organização fazer ações de COMUNICAÇÃO INTERNA que estejam apenas adequadas à sua cultura do que fazer ações por fazer e até copiar ações feitas em outras empresas?

Tem que ter sentido para as pessoas que convivem naquele espaço. Essa é regra primordial.

Na realidade, as ações de comunicação interna podem ajudar a construir e fortalecer as culturas nos ambientes empresariais. Mas é preciso que elas tenham significado para as pessoas. De nada adianta “copiar” ideias que podem permanecer algum tempo, mas que depois se esvaziam, naturalmente, por não ser parte do contexto que aquelas pessoas vivenciam.

 

7- De que modo é possível utilizar a cultura organizacional para criar um propósito e identificar os valores principais de uma organização?

Cultura organizacional é o fundamento, é a base, é a que dá condições para a existência de um propósito. Estamos questionando cada vez mais o comportamento de nossas empresas, exatamente para irmos além de visão e valores, encontrando nosso propósito. Ou seja, o que queremos deixar como legado? Esse questionamento torna a empresa energizada, pois significa uma busca continua e não a vivencia de uma pré-realidade, algo que temos e que conhecemos, mas sim uma luta que nos move para um outro patamar. Nesse sentido, entendo que a cultura é o alicerce para esse processo, indo muito além dos valores empresariais. Tenho trabalhado desde o lançamento em 2006 da Coleção Faces da Cultura e da Comunicação com uma visão da cultura para além de valores, missão, ritos entre outros, compreendendo que cultura permeia toda e qualquer realidade de uma empresa.

Um movimento das lideranças nos revela uma interpretação dessa empresa, processos de mudança desencadeiam inúmeros outros comportamentos e assim sucessivamente. Portanto qualquer manifestação de comportamento de uma empresa, revela seu mosaico cultural e não uma única cultura presente.

Isso é muito importante compreendermos, pois não existe na contemporaneidade uma única maneira de agir, uma empresa revela CulturaS e não uma cultura organizacional e subculturas. Tudo adquire valor a partir do que seja manifestado por um determinado grupo que se relacione tanto interna quanto externamente com a empresa.

8- Atualmente você acha que as empresas dão mais valor para a cultura organizacional do que no passado?

As que ainda não acordaram para essa temática e para refletirem sobre seus comportamentos, maneiras de agir, de se relacionar, certamente precisam rever sua gestão. Cultura é vivida no cotidiano e experimentada a cada atitude. Assim, empresas que não aprendem a se compreender podem ter dificuldade de entenderem quem são, ou seja, sua identidade, tornando-se ainda mais difícil trabalhar sua imagem, ou seja como somos vistos, e sua reputação, o que significa a construção de inúmeros processos com o mesmo ou diferentes segmentos de públicos, sendo em períodos longitudinais para que possamos falar em reputação empresarial.

9- Deixe uma mensagem para os profissionais que atuam com CI, Endo e Cultura organizacional.

Antes de qualquer ação, reflita sobre sua empresa. Conheça profundamente seu negócio, os relacionamentos identificando as características e conhecendo em profundidade a visão dos públicos sobre a empresa, para, a partir daí, ousar em comunicação. Somente assim seremos profissionais estratégicos e primordiais para as novas empresas. Vivencie a cultura, energize-se com ela e veja os efeitos a longo prazo que suas equipes estarão revelando.

*Marlene Marchiori é apaixonada por comunicação. Atualmente é palestrante em temas ligados a comunicação, cultura, liderança e estratégia, planeja e organiza workshops para desenvolvimento de relacionamentos, comunicação, cultura e identidade empresarial, criando e desenvolvendo projetos específicos de acordo com as estratégias criadas pelas equipes, com orientação exclusiva durante o processo de trabalho. Desenvolve mentorias individual ou coletiva para que as pessoas encontrem inspiração comunicacional no desenvolvimento de seus negócios. Pesquisadora e Professora Sênior do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Estadual de Londrina. Escritora e organizadora de livros no campo da comunicação, cultura, estratégia nas organizações, os quais somam mais de 12 obras. Pós-doutorado em Comunicação Organizacional pela Brian Lamb School of Communication, Purdue University, dos Estados Unidos da América. Doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo, tendo estudado no Theory, Culture & Society Centre com o Professor Mike Featherstone na Nottingham Trent University, do Reino Unido. Graduada em Comunicação e Administração de Empresas. Professora de Comunicação por mais de 30 anos e de Pós-Graduação em diferentes instituições acadêmicas no Brasil nos últimos 15 anos. Profissional no mercado do agronegócio e empresarial, atuando por mais de 25 anos, com a March Comunicação e a MMarchiori. Personalidade de Comunicação ABERJE, Ganhadora do Prêmio Opinião Pública Destaque Profissional Área Rural pelo Conselho Regional Profissionais de Relações Públicas e Reconhecimento Acadêmico pela contribuição na Universidade Estadual de Londrina no Curso de Comunicação.