Compreendemos organizações inseridas em um mundo permeado de símbolos, artefatos, criações subjetivas e princípios que constituem o que chamamos Cultura. Nessa ótica as organizações são a expressão de formas e manifestações da consciência humana e o resultado de inúmeras significações simbólicas (CARRIERI, 2002); por outro lado, a comunicação é reconhecida como constitutiva desses espaços mediante um processo interativo, livre e aberto de formação do significado, da informação e do conhecimento (DEETZ, 2010), o que garante a manutenção da dinâmica das organizações.

Nesse contexto, uma atitude, um processo, uma prática, são construções sociais que envolvem um modo de ser e uma singularidade que se projetam na maneira de articular, de questionar, de criar, de imaginar, de inovar, de constituir realidades organizacionais. É dessa forma que se concebe “comunicação como processo central” (EISENBERG; RILEY, 2001, p. 293), como algo necessário para a compreensão de como as organizações são constituídas, nutridas, reconstruídas e transformadas.

Conhecer as implicações dos conceitos de Comunicação e Cultura é concentrar o olhar sob a perspectiva processual, que a cada movimento emerge em um novo contexto, um sentido que se ressignifica, se institui e se reinstitui nas interações e colabora no sentido de compreender os contextos, as decisões, os múltiplos ambientes e as potencialidades vivenciadas nas organizações contemporâneas.

A importância da discussão da cultura na sociedade, foi revelada em 1871 por Edward B. Tylor. Já no contexto organizacional o uso do termo surgiu na década de 1950 por Elliott Jacques (1951) que trata do que chamou de “cultura da empresa”, que são conjuntos mais ou menos compartilhados de ideias e ações nos hábitos e nas tradições em uma empresa. Na década de 80 a abordagem da cultura já tinha se disseminado amplamente, em diferentes correntes que Smircich (1983) agrupou em duas grandes abordagens de acordo com a diferentes correntes epistemológicas e metodológicas adotadas por pesquisadores. Na primeira, cultura é concebida como uma variável organizacional, já na segunda, cultura é compreendida como uma metáfora da organização.

A primeira abordagem, com influência do paradigma funcionalista, trata da chamada Cultura Organizacional (CO) como um aspecto que a organização possui. A segunda abordagem, com raízes no paradigma interpretativo, mas que vai além dele, lida coma cultura como algo que a organização é(Smircich, 1983), por isso trata da Cultura nas Organizações (CNO) (Alvesson, 1993). Esta última definição é mais abrangente que a primeira, pois pressupõe uma ação do indivíduo no processo, sugerindo, assim, falar-se de CulturaS[1] nos ambientes organizacionais em razão da multiplicidade de pessoas que,ao interagirem, fomentam diferentes formas de ser e agir, e fazem emergir dessas relações diversidades e diferenças e não uma visão única de cultura. Assim abordagens no campo interpretativo, crítico e pós-moderno, vão além da visão de cultura como variável (paradigma funcionalista) e suscitam reflexões e instigam o desenvolvimento de novas pesquisas teóricas e empíricas nos estudos organizacionais e comunicacionais. Essas diferentes concepções fazem enxergar organizações como ambientes dinâmicos, interativos, discursivos, com elementos constituintes (essenciais) e constitutivos (meios e recursos) no processo de criação e de consolidação de realidades.

Trechos extraídos da Coleção Faces da Cultura e da Comunicacao Organizacional, lançada pela Difusão Editora e Senac Rio de Janeiro.

São 10 volumes, diferentes Faces, com 14 Casos de empresas.