Partimos da reflexão de Flavio Vasconcellos, que evidencia que o comportamento humano nas organizações não pode ser observado como uma variável independente, ou seja, controlada. Devemos compreender o comportamento humano como agente de construção dos ambientes, e isso muda a prerrogativa do sujeito para um sujeito ativo, um sujeito com voz, um sujeito que apreende a realidade, um sujeito que por meio de suas experiências se torna um novo sujeito apto a novos processos de desenvolvimento.

Essa concepção dialógica da comunicação amplia a visão sobre comunicação. Nós nos deslocamos de uma visão tradicional, de transmissão, de modelo informacional, de uma única via, para uma visão na qual o mundo social aceito como dado não é válido. A visão generativa trata como a comunicação constrói esse mundo social. A partir dessa concepção, o diálogo é essencialmente uma articulação de mecanismo generativo do processo de produção de sentido.

Essa visão dialógica, na realidade, vem ampliar a visão do sujeito, porque deixa de estar centrada no sujeito isolado e passa a considerar no “entre” eles e nesse contexto, como podemos olhar de acordo com Baxter as práticas intercomunicativas dos interlocutores. Então, veja que a linguagem não é apenas para alguém transmitir conhecimento, mas ela é também sobre como se imagina o mundo, assumindo a responsabilidade para a ação. Acredito ser essa discussão fundamental, ou seja, precisamos centrar nossa atenção na amplitude desse processo e não em uma análise especifica, de uma determinada questão, a qual pode limitar nosso grau de compreensão sobre o fenômeno em estudo.

Nesse sentido, eu acredito que o campo da comunicação tem evoluído. Vemos a comunicação como prática constitutiva do organizing e, nesse aspecto, entendemos a comunicação constituindo organização. A comunicação não apenas reflete a realidade, mas ela cria e mantém os significados que guiam a vida organizacional e motivam ações particulares.

A partir disso, vamos observar e entender a comunicação como esse processo de produção e compartilhamento de sentidos entre os sujeitos interlocutores que tem como base a interação e o contexto sócio histórico de acordo com França.

Precisamos observar a presença dos sujeitos interlocutores e tomar as interfaces discursivas como momentos de comunicação. Devemos refletir sobre a comunicação como uma experiência (Sheperd, 2006) e quando nós a definimos assim, nós nos afastamos da exigência de precisão ou correspondência, e isso leva ao exame da qualidade da experiência de comunicação.

Então, desafio o leitor a refletir comigo: eu não sei quem você é, mas eu sei quem você se torna na experiência de comunicação. Assim, gostaria de deixar essa colocação como uma reflexão principal, entendendo que os processos interacionais onde os sujeitos se encontram em diálogo são processos possíveis de experiências de aproximação. Se vislumbrarmos a comunicação como processo, há uma exigência de se olhar os sujeitos em conversações, e essa perspectiva dialógica empodera a comunicação para criar ou construir o mundo social, incluindo o “eu”, o “outro” e as relações entre eles.

VASCONCELOS, F. C. Dinâmica organizacional e estratégia: imagens e conceitos. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

BAXTER, L. A. Communication as Dialogue. In: SHEPHERD, G. J.; JOHN, J. St.; STRIPHAS, T. Communication as –: perspectives on theory. Califórnia: Sage Publications, 2006. p. 101-110.

FRANÇA, V. R. V. Problemas metodológicos e conceituais na análise de programas populares de TV. In: CAPPARELLI, S.; SODRÉ, M.; SQUIRRA, S. A Comunicação revisitada. Porto Alegre: Sulina, 2005. p. 85-118.

SHEPHERD, G. J. Communication as Transcendence. In: SHEPHERD, G. J.; JOHN, J. St.; STRIPHAS, T. Communication as –: perspectives on theory. Califórnia: Sage Publications, 2006. p. 22-30